Associação Bola da Vez Mairiporã: a iniciativa que forma campeões para a vida
- petpimpao8
- há 4 dias
- 4 min de leitura
Criado em 2009, na região do Capoavinha, o trabalho se tornou referência em esporte, cultura e educação para mais de 300 crianças e adolescentes de Mairiporã.
Por Peterson Pimpão
O que era para ser um período difícil de recuperação após um acidente de moto, se transformou na oportunidade de mudar a vida de crianças e adolescentes em Mairiporã. O professor Edmilson Tadeu, fundou, em 2009, a Associação Bola da Vez, que hoje é referência em esporte e cultura para quase 300 crianças da cidade.
A ideia surgiu quando Edmilson passou a levar seu filho, Raul Gimenes, para jogar bola com os amigos em uma quadra, no bairro Capoavinha, e percebeu uma lacuna na região. Ali, surgiu a vontade de tentar fazer a diferença na vida da comunidade local. Tudo começou com o futsal.
“Nós começamos com nove crianças, que aí virou 15, depois virou 20, depois virou 30! E aí isso acabou me animando, acabou me despertando um professor que eu não era na época, disse Edmilson.”

Em pouco tempo, a iniciativa superou as quatro linhas. “Proporcionamos um lugar para eles poderem se divertir. Nós não buscamos formar atletas, nós formamos aqui caráter. É um espaço para oportunizar a criança, ela ter um lugar onde possa ficar. Por isso que nós trabalhamos aqui no projeto os sete dias da semana. É um espaço mesmo para a gente abraçar a criança do bairro, concluiu Edmilson.”
Crescimento do projeto.
Em 2014, o projeto Bola da Vez se formalizou. Ganhou título de associação sem fins lucrativos, o que viabilizou parcerias com o poder público e com empresas locais.
A prefeitura de Mairiporã passou a ceder as instalações da Escola Prefeito Sarkis Tellian no período noturno para a realização das aulas. Além disso, surgiram patrocínios para custear a compra de materiais esportivos e equipamentos em geral.
Cultura e novas modalidades.
Hoje, a BDV Mairiporã, como é conhecida, contribui, também, na parte cultural. Foram integradas ao projeto aulas de violão e fotografia, além da realização de saraus. No esporte, o número de modalidades cresceu. São oferecidas aulas de futebol masculino e feminino, voleibol, capoeira, karatê, ballet, judô, muay thai e o jiu-jitsu.
Disciplina, respeito e humildade.
O Jiu-Jitsu foi o segundo esporte da Associação BDV. Iniciou em 2011 com os ensinamentos da família Morça. Na sequência, uma parceria com a Escola Colisão, de São Paulo, viabilizou a graduação e a participação dos alunos em competições oficiais.
“A Colisão é uma das maiores escolas de luta do estado de São Paulo, se não, da América Latina”, destacou Edmilson.
Na época os primeiros passos foram dados pelo sensei Nando Morça, que ensinou a prática da autodefesa, o fortalecimento físico e mental e a promoção de valores como a disciplina, o respeito e a humildade.
Atualmente, os treinos são realizados pelo sensei Edilson, graduado em faixa preta no primeiro grau pela equipe Colisão. Ele mantém o legado do irmão, sensei Nando Morça, que hoje é professor de jiu-jitsu nos Estados Unidos.
Professor Edilson iniciou a sua jornada na Associação BDV Mairiporã como aluno, e atualmente ensina o Jiu-Jitsu para os seus 28 alunos com dedicação e engajamento.
“Tenho percebido o desenvolvimento das crianças não só dentro do tatame, mas também fora, como na postura e nas decisões dos alunos para encarar a vida. Conversar com os pais e ver resultados de disciplina, educação e diálogo dos alunos dentro de suas casas têm sido minha maior motivação. Trabalhamos todos os dias para que elas sejam pessoas vitoriosas não só em campeonatos esportivos nacionais e internacionais, mas também em suas vidas”, ressaltou Edilson.

Histórias que inspiram.
O jovem Kauan da Silva, de 14 anos, passava por dificuldades na escola, segundo a mãe. A entrada nas aulas de jiu-jitsu representou muito mais do que só uma prática esportiva.
“Kauan desde pequeno já sofria certo preconceito pelo tamanho que ele tem. Ele tem 14 anos e uma estatura baixa. Era uma criança que não se misturava com ninguém porque sempre era zoado. Ele não se comunicava e preferia ficar em telas”, relata Jéssica da Silva, mãe do garoto.
Após sua entrada no projeto, Kauan passou a se sentir um vencedor.
“Eu sofria muito bullying por causa do tamanho. Mas quando comecei no jiu-jitsu em 2023 consegui superar. E agora nem ligo pra isso. Ganhei várias medalhas em competições e me tornei uma pessoa mais forte, conta Kauan.”

Maria Eduarda Gimenes, de 14 anos, é outro destaque da BDV Mairiporã. Duda, como gosta de ser chamada, é reconhecida pelos bons resultados em campeonatos relevantes na modalidade. Foram cinco medalhas conquistadas.
“O mais difícil eu acho que foi o Arnold. Porque na minha categoria as meninas são muito fortes e eu consegui me manter ali na guarda, não deixei ela (adversária) passar. Eu conquistei o terceiro lugar”, lembrou.

Legado e futuro.
A Associação Bola da Vez tem planos para o futuro. Quer uma sede própria para conseguir ampliar ainda mais a oferta de atividades.
“Queremos um espaço que seja nosso. Assim, poderemos ter um trabalho todos os dias, sem restrição de horário. Esse é o nosso maior sonho”, completa Edmilson.
Então, com esse espaço, o projeto não vai trabalhar só a parte noturna da semana e o final de semana. Nós queremos ter um trabalho das 8hs às 20hs ou das 8hs às 22hs da noite efetivo no nosso espaço. Os sete dias da semana. Esse é o nosso maior sonho.”
O legado da Associação Bola da Vez Mairiporã não está apenas nas medalhas conquistadas, mas nas vidas transformadas em caráter, respeito e coragem para seguir em frente. Porque a maior vitória da Bola da Vez não está nos pódios, mas na certeza de que cada criança atendida já é campeã da própria história.




Comentários